A Mancha Humana de Philip Roth
“Chegara a altura de ceder, de deixar aquela necessidade simples ser o seu guia. Sem fazer caso da acusação deles. Sem fazer caso da incriminação deles. Sem fazer caso da condenação deles. Aprende antes de morrer, disse a si mesmo, aprende a viver fora da alçada da sua enfurecedora, detestável e estúpida reprovação.”
“- Em oratória, você é um mestre de uma loquacidade prodigiosa, Nelson. Tão perspicaz. Tão fluente. Um mestre de oratória no que toca à frase interminável, pomposa e desmedidamente rebuscada. É tão prodigamente rico de desdém por todo e qualquer problema humano que nunca teve de enfrentar! – Sentia uma vontade tremenda de agarrar o insolente filho da puta pelo peitilho da camisa e atirá-lo contra a montra da Talbots. Em vez disso, recuou um passo, conteve-se e, falando de modo calculado e no tom mais suave que conseguiu, embora não tão cuidadosamente quanto poderia ter feito, longe disso, declarou: – Não quero voltar a ouvir, nunca mais, essa voz cheia de admiração por si mesma, nem ver a puta dessa cara presunçosa de lírio branco.
– “Lírio branco”? – repetiu Primus à mulher, nessa noite. -“Lírio branco”porquê? Sei que não podemos responsabilizar as pessoas pelo que deitam pela boca fora quando se sentem usadas e ofendidas na sua dignidade. Mas pretendia eu parecer que estava a atacá-lo? Evidentemente que não. (…) Devia ter sido conciso, objectivo, pragmático, mas em vez disso fui provocador. Quis ajudá-lo e acabei por ofendê-lo e tornar a situação mais grave para ele. Não, não o censuro por ter descarregado em mim daquela maneira, Mas, querida, a questão permanece porquê branco?”



